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O melhor do rock passou ontem por Lisboa em mais um fantástico concerto dos The National, que cantaram “Fake Empire” no dia em que as forças de segurança tomaram as escadarias da Assembleia, onde poderiam ter cantado em coro “I still owe money to the money, to the money I owe?”.
A música dos The National soa como um quadro de Paula Rego, em que uma beleza insuportável nos esmaga. Uma beleza que surge de uma arte visceral, sem concessões e genuína. Todo o contrário dos detergentes sonoros que povoam as rádios, capazes de entrar em todas as casas sem bater à porta e sem deixar marca. Como os quadros de Paula Rego, a música dos The National não é feita para agradar pela facilidade, feita de um refrão fácil ou um arranjo compostinho, a sua música arrebata, como a grande arte, porque tem algo a dizer e algo para nos fazer sentir.
Os The National fazem de um concerto, independentemente do local onde se realiza, um objecto artístico intimista, ao mesmo tempo que insuperavelmente cool, onde nos transportamos para o pequeno teatro da capa de “Boxer” e assistimos a um grande concerto entre amigos, que acabam a cantar em coro, como ontem no Pavilhão Atlântico, “All the very best of us string ourselves up for love"
Quando o frio ameaça chegar, chega-me uma súbita vontade de vestir mais uns casacos, rumar a estas ruas que são um pouco minhas e perder-me a saltitar de tapa em tapa, de vinho em vinho, de bar em bar, aquecendo o frio das ruas com quente da vida da cidade.
Diz que hoje é um dia especial com um nome em inglês cujo significado desconheço. Parece que implica abóboras e bruxas, sendo que as primeiras não me agradam em particular e as segundas não creio que existam (pero que las hay, las hay).
Sei que noutros tempos este era dia com cheiro a broas e amanhã dia de bater portas a pedir "bolinhos, bolinhos, à porta dos santinhos". Já dizia o outro que "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades". Eu prefiro não mudar e fico com as minhas boas memórias. E com as broas. Teimosias minhas.
SILVA - Moletom
- Charles, tenho frio. Isto de o tempo mudar de repente apanha-nos sempre de surpresa.
- Não se preocupe, menino, já fiz a mudanças das roupas e tem as suas lãs prontas a usar.
- Como sempre adivinhou o meu pensamento. Isto já não vai lá com algodão.
- Estou a preparar um Yunnan que penso ir bem com este início de Outono.
- Perfeito, Charles. Há compota de tomate?
- Com certeza, menino. Virá junto com os scones.
E o exame de inglês técnico ao fim de semana?
A cara altera-se um pouco "Se quiser falar disso...falo para que compreenda o que aconteceu. Fiz o 7º ano com 15 anos no Liceu Nacional da Covilhã. Fui para Coimbra. Estamos em 75, anos da brasa, e o meu pai achou que a universidade estava em greve e disse-me para ir para o instituto, onde ao menos havia aulas. Cheguei a Coimbra com o Luís Patrão, meui amigo de infância da Covilhã. Foi meu chefe de gabinete e chefe de gabinete de Guterres. Ele estava no 3º ano de Direito em Coimbra, era já um 'doutor', e o pai ofereceu-lhe um Fiat 127 de presente, azul-escuro. O carro chegou a Coimbra carregado com as minhas malas. Fui estudar"
Citado da entrevista de Clara Ferreira Alves José Sócrates
Apesar do tom enternecedor do "fui estudar" ou de pormenores como o azul-escuro do carro, deve ser por ignorância minha, por certo será, mas na longa resposta dada, não vejo qualquer relação com a pergunta. A não ser que haja uma relação italo-britânica entre o inglês técnico e o Fiat ou um paralelismo entre Coimbra e o fim de semana.
"Não sinto nenhuma inclinação para voltar a depender da vontade popular"
Citação da entrevista de Sócrates ao Expresso.
Compreende-se, é de facto uma maçada ter de depender do voto de um povo ingrato que não valoriza quem merece. A democracia tem destas coisas. É mesmo uma maçada.
Depois de ler a entrevista de Sócrates ao Expresso fico com uma dúvida, será que os alucinogénios que ele anda a tomar são legais? É que se calhar mandava vir umas caixas para também me alienar da realidade. A ver pela entrevista são bem fortes e eficazes.
Entrar e estar em São Carlos é sempre bom, independentemente daquilo que se vá ouvir. A beleza do cenário compensa sempre a deslocação e desloca-nos numa cápsula temporal para tempos de antanho onde os doirados e os veludos nos embrulhavam.
“Il Cappello di Paglia di Firenze”, de Nino Rota, é uma ópera bufa divertidíssima, fazendo lembrar antigas comédias de enganos italianas e portuguesas. Elenco e produção da casa, isto é, quase absolutamente nacional. Foi bom perceber que é possível fazer ópera com qualidade em Portugal. Não com o brilho muitas vezes visto em São Carlos, mas com competência e dignidade. Os cenários eram quase inexistentes, por certo por falta de orçamento, mas foram concebidos com alguma habilidade que permitiu que depois de uma estranheza inicial pelo despojamento, as coisas funcionassem. O elenco esteve de um modo geral competente e em alguns casos acima da média, nomeadamente na parte teatral, tão importante nesta ópera.
A surpresa da noite foi o ambiente encontrado. No lugar da predominante elegância de fatos escuros e casacos de peles com uma média etária por vezes próxima da idade da reforma, encontrei uma massa de gente nova em trajes modernos em alegre convivência com alguns desses habituées. Provavelmente houvera oferta de bilhetes a escolas de música, mas encontrar um público rejuvenescido e respeitador do espaço e da música foi uma alegre surpresa que traz alguma esperança em que não se deixe morrer o teatro de ópera neste país. Este foi um contraponto ao facto desta temporada do São Carlos estar reduzida a apenas duas óperas. Apesar da omnipresente crise, o São Carlos terá, por certo, elevadíssimos custos fixos, nomeadamente orquestra e coro residentes. Ora, será questionável que, face à crise, se opte por poucas produções, ainda por cima pouco chamativas de público, pois o custo por ópera deverá ser, este ano, elevadíssimo. Não estamos em tempos de fugas para a frente, mas persistir neste modelo pode conduzir com facilidade a uma morte lenta deste teatro, e com ele da ópera em Portugal.
O governo acha que a função pública é pouco qualificada.
O governo quer qualificar a função pública.
O governo quer cortar (ainda) mais nos ordenados acima de 600 euros.
Os ordenados acima dos 600 euros são do pessoal mais qualificado, da pouco qualificada função pública.
O governo diz que o próximo corte de salários é para promover e estimular as rescisões amigáveis.
Caso o governo tenha sucesso o pessoal que vai sair é o mais qualificado.
O raciocínio começou com “função pública é pouco qualificada” e acaba, caso o governo tenha sucesso, com a função pública muito mais desqualificada.
Já imagino o Dr. Portas triunfante a anunciar mais um sucesso do governo.
Após esta quadratura do círculo a população irá olhar com uma desconfiança infinitamente maior para o Estado e os seus funcionários que restam, que serão os mais ineficientes e incompetentes.
Chegado a este ponto o objectivo está cumprido. O povo, perante a má qualidade dos serviços do Estado, pedirá em massa que os mesmos passem para a mão de privados.
Hoje, sem qualquer aviso prévio ou comunicado oficial, a Direcção Geral do Orçamento cortou nos orçamentos de instituições públicas, por ela já aprovados em Setembro. Assim. Sem mais. Os cortes foram descobertos por quem, por acaso, consultou esses dados e verificou cortes na ordem dos 7 ou 8% na rubrica dos vencimentos. Depois das 40 horas chega mais um corte nos salários da função pública, desta vez em pezinhos de lã, ao coberto da noite, como um ladrão que se esconde num beco à espera da vítima, sempre a mesma, a quem já pouco vai restando para roubar.
O nosso governo não se cansa de nos surpreender e agora até parece querer mostrar que Estado de Direito e Democracia são meras palavras sem qualquer significado. Tudo é possível. Mas será que é mesmo possível tudo?
A coisa começou suave, com a sigla H3 a invadir os centros comerciais. Resistiam então alguns clássicos que foram sobrevivendo aos anos, como o Great American Disaster. Hoje, começa a ser difícil andar em Lisboa sem tropeçar numa nova hamburgueria, quase sempre dita gourmet, especial, única. Porque são sempre muito gourmet, com as receitas dos ditos pesquisadas por especialistas ao longo de meses e os pães com secretas fórmulas caseiras de origem quase alquímica. Por muito que se queira sofisticar a coisa, um hamburger é um hamburger. Há uns melhores, outros piores. Há batatas boas e batatas más. Não vejo como tornar isto numa elaborada batalha gastronómica e com ela tomar conta das ruas desta cidade. Qualquer dia ainda fazem um hamburguer em pastel de massa tenra ou um cozido com hamburguer DOP. Gosto de um bom hamburguer, mas hoje em dia corro o risco de ficar submerso em carne picada gourmet ao andar pelas ruas de Lisboa.
É sempre bom voltar aos Stones, é como quando voltamos àquele restaurante que fez parte de várias fases da nossa vida, onde já não precisamos de olhar para a ementa e os empregados nos conhecem pelo nome.
(Gosto particularmente desta versão com o coro)
Aldo Ciccolini - Gymnopedie n.1 (Eric Satie)
“Penso que o chamado liberalismo selvagem torna os fortes mais fortes e os débeis mais débeis e os excluídos mais excluídos. É necessária uma grande liberdade, acabar com a discriminação, afastar os demagogos e impor o amor. São necessárias formas de regulação e também, se se impuser, a intervenção directa do Estado para corrigir as desigualdades mais intoleráveis.”
Papa Franciso (em entrevista ao La Repubblica)
Alguns números curiosos das eleições de Domingo.
O PS ganhou com 36,25% (1.810.744 votos), mas comparando com os 37,67% (2.084.382 votos) de 2009, soa a vitória pífia perante uma PSD em destruição progressiva. A vitória esmagadora de Costa em Lisboa tem muito de pessoal e não terá sido a mais comemorada por Seguro.
O CDS cantou vitória pelas 5 câmaras, mas curiosamente, em listas próprias, teve menos votos (151.828 - 3,04%) do que os Brancos (193.334 - 3,87%).
O PSD foi literalmente esmagado, em particular na Madeira, no Porto (Menezes com 21,1%), em Lisboa (Seara, em coligação, com 22,4%), em Sintra (Pedro Pinto com 13,8%) e em Gaia (Carlos Abreu Amorim com 20,0%).
O Bloco passou a inexistência, com menos votos (120.914 Votos - 2,42%) do que os Nulos (147.124 - 2,95%).
A CDU cresceu e pela primeira vez em anos comemorou a vitória com propriedade.
O Independentes mostraram que há vida para além dos partidos e conseguiram 344,566 votos (6,9%), ganhando Porto, Matosinhos, Oeiras e Portalegre, ficando mesmo à beirinha em Sintra.
O Contra, considerando Brancos e Nulos, atingiu uns notáveis 340.458 (6,82%). Se a isto adicionarmos uma abstenção de 47,4%, deveria levar os partidos a pensar na vida, algo que, apesar de desejável, é muito pouco provável.
Posto isto, enquanto Lisboa fica com António Costa e o Porto com Rui Moreira, o país permanece com Passos no poder e Seguro na oposição. Caso para dizer que bem melhor entregues estão as cidades do que está o país.