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Razão antes de tempo. Quando penso ou falo em Gonçalo Ribeiro Telles (GRT), muitas coisas me chegam à memória, mas esta vem sempre, e acompanhada pela mágoa de viver num país que o tardou, e tarda em compreender. Este país onde planear é um verbo sem uso e onde paisagem é sinónimo de pasto para vacas que se vê ao passar na auto-estrada.
Nestes tempos de pequenos portugueses, é com grande orgulho que vejo reconhecido o percurso de vida de GRT pela IFLA (International Federation of Landscape Architects), que lhe atribuiu o Prémio Sir Geoffrey Jellicoe (autor do essencial "The Landscape of Man"), tido como o Nobel da Arquitectura Paisagista.
Quando penso em GRT também me vem à memória a sua responsabilidade na escolha do meu percurso académico. Se alguém me levou em direcção ao Instituto Superior de Agronomia para estudar essa coisa que anos antes nem conhecia, chamada Arquitectura Paisagista, foi este senhor e as suas intervenções públicas em defesa de um melhor Portugal, sempre de um melhor Portugal. Mais sustentável, mais justo. E tão diferentes seríamos se mais ouvissem as suas palavras que ainda tive a sorte de poder ouvir em aulas, nas que deu no seu último ano como professor do I.S.A.
Relembro outras lutas, como as hortas urbanas que levaram a que lhe chamassem louco e hoje pululam com grande sucesso por Lisboa; o corredor verde que teimosamente defendeu e muitos anos passados foi construído; a concretização da REN e da RAN, que apesar de enormes defeitos decorrentes do tempo record em que foram elaboradas, tantos disparates ajudaram a travar; a luta contra as impermeabilizações massivas do solo e as construções em leito de cheia, que precisou que as catástrofes ocorressem para que se percebesse a sua pertinência.
Tudo isto se espelha no jardim da Gulbenkian, desenhado com Viana Barreto, legado de uma forma de ver o mundo com a modernidade de braço dado com a tradição, o futuro sem esquecer o passado, o rasgo equilibrado e sustentável, ousar sem destruir, criar para usufruir.