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Como que antecipando a surpreendente renúncia do Papa Emérito, a revista “Cult” deste mês é quase inteiramente dedicada a Bento XVI e ao seu pontificado. Num dossier irrepreensível de 21 páginas, analisam-se, sem preconceitos, quatro temas fundamentais do pensamento de Joseph Ratzinger: fé, crítica da cultura, ética e filosofia, não esquecendo um tema caro ao Brasil e à América Latina, a relação do então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé com a Teologia da Libertação.
Fugindo aos redutores epítetos do politicamente correcto, a “Cult” debruça-se sobre o pensamento “de um homem brilhante e raro teólogo”, “humanista preciso e discreto, avesso à demagogia, tão utilizada no poder”, realçando a importância da clareza com que insistiu na centralidade da fé para a experiência humana, na defesa da razão quando conciliada com a ética e duma cultura onde “não se viva o silêncio de Deus”.
No entanto, talvez a parte mais extraordinária deste dossier esteja reservada para o final, quando a revista decide dar voz a teólogos da libertação como Clodovis Boff irmão de Leonardo Boff e Frei Betto, pedindo-lhes a opinião sobre Bento XVI, o seu Pontificado e a sua recente renúncia ao Bispado de Roma. Boff é claríssimo ao afirmar: “Seu mérito maior não está em sua inteligência, mas em sua coragem de sustentar a fé católica numa cultura do politicamente correto, ou seja, do carneirismo cultural.” E sustenta ainda: “a renúncia, como foi colocada pelo papa, é de uma transparência indiscutível. Sobretudo sabendo que ele nunca teve medo de dizer o que pensa, mesmo frente a públicos que lhe eram hostis. Ver coisas por trás desta renúncia é coisa de gente pequena, que usa critérios pequenos para julgar espíritos grandes.”
Termino com um excerto do editorial de Daysi Bregantini: “Sei perfeitamente do preconceito contra a Igreja Católica, chamada de medieval e opressora, e sei também que a fé anda fora de moda nos círculos “inteligentes”. A renúncia de Bento XVI me encheu de orgulho porque humanizou o papado e tirou o foco de atenção do poder para a fé, que é a razão de ser da Igreja.”
“Cult” 177 de Março de 2013, a não perder!
Nota: Todos os excertos utilizados estão na sua versão original em português escrito no Brasil.