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O simples facto de ser casado com Malu Mader seria motivo bastante para que eu fosse inimigo figadal do Tony Belotto, mas a verdade é que não só simpatizo com ele, como gosto das suas músicas e dos seus livros.
Descobri o detective Bellini numa das muitas incursões pelo Brasil que agora me acolhe, fugido das agruras orçamentais do meu Portugal por cumprir, mais ou menos na mesma altura em que me cruzei com o delegado Espinosa, herói melancólico dos policiais geniais de Luiz Alfredo Garcia-Roza. Deambulei, com os dois por companhia, pelas ruas do Rio, apercebendo-me aos poucos das enormes semelhanças entre ambos. As mesmas relações intensas, mas fugazes; o mesmo gosto por uma solidão acompanhada pela guitarra feérica de Hendrix, no caso de Bellini e pela voz melancólica de Lee Hooker, no caso de Espinosa; os mesmos passeios nocturnos por ruas vazias. Nos dois, recordei o inspector Jaime Ramos, criação genial de Francisco José Viegas, também ele companheiro fiel de outras tantas viagens.
Mas, vem isto a propósito do facto de Tony Belotto ter regressado aos livros. Não com mais uma aventura do seu detective Bellini, mas com uma magnífica comédia de costumes, que como diz o próprio Belotto: “parte da idéia duma sociedade construída buscando a modernidade e a rapidez e que desembocou na imobilidade, como se o mundo estivesse preso num enorme congestionamento”. No espaço de tempo em que uma família de cariocas está presa no trânsito tentando sair da cidade, decorre toda a acção do livro, que no fundo é uma avaliação da vida de cada um dos seus elementos, tendo cada um deles como narrador.
Um livro divertido, actual e, sobretudo, muito bem escrito. A não perder, enquanto se aguarda o novíssimo álbum dos Titãns.
Belotto em grande!