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Hoje é Dia de Portugal!
Talvez a data já diga muito pouco, a quem tem o privilégio de viver no rectângulo mais ocidental da Europa.
Talvez, o cansaço das mentiras dos políticos que durante os últimos 40 anos se governaram, em vez de nos governarem, fazendo tábua rasa da mais elementar regra da democracia, o exercício do poder em prol do bem comum, tenha gerado descrença e desesperança no nosso povo. Talvez, a perda consciente, mas nunca referendada, da soberania, vendida a troco dos milhões desbaratados pelas cúpulas partidárias e que agora mendigamos em tranches doseadas de euros, medidas por uma credibilidade que não temos, mereça tudo menos comemorações.
Porém, para alguém que como eu que vive o Dia de Portugal a milhares de quilómetros de distância dos cheiros, das cores, dos sons e das gentes da sua pátria, percebe a importância desta comemoração. A distância é sempre boa conselheira e, poupado à futilidade dos discursos oficiais e das comendas encomendadas, entendo a relevância de nos unirmos em torno dum conceito que há 500 anos extravasou as fronteiras dum país para se entregar ao Mundo.
Por isso, hoje comemoro Camões e Pessoa e Eça e Camilo e António Vieira e Agustina e Machado de Assis e Guimarães Rosa e Viriato da Cruz e Mia Couto e todos os grandes escritores de língua portuguesa que são a expressão máxima da portugalidade. Por isso, hoje comemoro Amália e Cesária e João Gilberto e Travadinha e todos os grandes músicos, compositores e intérpretes que levaram pelo mundo a alma dessa portugalidade. Por isso, hoje comemoro Gonçalo Ribeiro Teles e Siza Vieira e Paula Rego e Vieira da Silva e Niemeyer e Di Cavalcanti e Malangatana. Comemoro a língua portuguesa, no exacto momento em que, meia dúzia de ignaros doutores inflados de protagonismo a procuram destruir nos corredores do poder, com acordos dissonantes que apenas fazem sentido nas suas geniais cabeças e nos bolsos de meia dúzia de ignorantes editores levados pela “vã cobiça” de mercados gigantescos que nunca conquistarão.
Comemoro um país de negreiros, que foi o primeiro a abolir a escravatura; um país ultramarino que foi o primeiro a emancipar pacificamente a sua maior colónia; um país de combatentes que foi o primeiro a extinguir a pena de morte.
Hoje, comemoro o país de 900 anos que se espraiou pelo mundo, levando na bagagem a diversidade cultural dos portos de amaragem, enriquecendo com cheiros, cores e sons diferentes os 4 cantos do mundo.
E, se tudo isto não bastasse, hoje, vivendo num país imenso que fala português, comemoro Portugal, o país onde nasci, cresci, aprendi e trabalhei, olhando com orgulho o seu passado e com esperança o seu futuro.
Acreditem, hoje, mais do que nunca, faz sentido comemorar Portugal!